quarta-feira, maio 07, 2025

Ucrânia como palco da Segunda Guerra Mundial e na atual agressão russa

Ucrânia foi um dos principais palcos de batalha da Segunda Guerra Mundial. Cidades inteiras foram arrasadas e milhões de ucranianos perderam as suas vidas. Hoje, a história está a repetir-se. A rússia está a travar uma guerra total e não provocada contra Ucrânia.


As mesmas cidades estão novamente a ser bombardeadas, igrejas destruídas e casas reduzidas a escombros. As atrocidades atualmente cometidas pelas forças russas não têm qualquer justificação.


Estas imagens mostram, lado a lado, o passado e o presente. O que aconteceu às cidades ucranianas durante a Segunda Guerra Mundial está a acontecer novamente.

A guerra da Rússia é uma afronta à humanidade. A Rússia tem de ser forçada à paz agora.

Este material foi preparado com base nas fontes do Arquivo Estatal Central de Audiovisual e Documentação Eletrónica do Serviço Arquivístico Estatal da Ucrânia.

terça-feira, maio 06, 2025

Ucrânia revela os nomes dos mercenários de Cuba

A rússia tem vindo a recrutar ativamente mercenários de Cuba desde o início de 2023. O projeto ucraniano «Quero viver» revela os nomes e os dados pessoais de 1.028 cubanos que assinaram contratos com as forças armadas russas em 2023-2024. 39 deles já morreram. 

Consultar a lista completa

O facto de as autoridades cubanas terem conhecimento do recrutamento em massa e de o patrocinarem foi revelado pelo conhecido representante da resistência cubana, o investigador Orlando Gutierrez-Boronat. Após uma ampla indignação pública, 17 pessoas foram detidas em Cuba em 2023, acusadas de recrutar cidadãos do país para participar na guerra contra Ucrânia. O Procurador-geral cubano disse então que os suspeitos poderiam enfrentar até 30 anos de prisão, prisão perpétua ou pena de morte. Infelizmente, desde então, o número de cubanos recrutados tem aumentado exponencialmente. De acordo com os dados OSINT, cerca de 20 mil (!) cidadãos cubanos tornaram-se vítimas de recrutadores russos. As autoridades cubanas devem esforçar-se para garantir que os seus cidadãos não se tornam carne para a canhão russa. 

Cuba é mais pobre do que a maioria dos países da região; as pessoas vivem pior apenas na Venezuela e na Bolívia, onde também existem os sentimentos pró-rússia e pró-putin. Tal como noutros países, o esquema “SEC” é utilizado para recrutar cubanos: subornar, enganar, coagir. Os mercenários recebem ofertas de trabalho na rússia como operários não qualificados, faxineiros, seguranças, etc. O salário médio em Cuba é de 32 à 35 dólares por mês, pelo que, quando os cubanos recebem uma oferta de «trabalho fácil na rússia fraterna» com um salário mensal de 2 a 2,5 mil dólares, muitos assinam contratos em russo, sem saber o que está lá escrito. 

Como disse o único mercenário cubano capturado vivo pelas FAU, Frank Dario Yarossey Manfuga, só se apercebeu do que se estava a meter quando começaram a entregar-lhe capacete e colete à prova de bala na base militar de Rostov. Uma tentativa de se recusar a participar na guerra terminou para Dario com uma sova e a ser enviado para uma unidade de assalto. 

É claro que entre os mercenários há muitos que não precisam de ser forçados: viajaram milhares de quilómetros deliberadamente para ganhar dinheiro com a guerra. Infelizmente para eles, não sabem que fizeram um acordo com o diabo, e a maioria deles não está destinada a regressar viva ou entacta, após participar nos ataques russos de «carne picada». 

Recordamos que o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia pede aos estrangeiros que evitem juntar-se às fileiras do exército de ocupação russo por todos os meios possíveis e, caso fossem enviados para a frente de combate, que contactassem o projeto “Quero Viver”. Não importa que valores os recrutadores prometam, geralmente a hestória acaba em morte inglória num dos locais sem o nome. Apenas alguns conseguem sobreviver e acabam em cativeiro na Ucrânia. 

Salve a sua vida e renda-se às FAU: t.me/spasisebyabot

Chamadas: +38 044 350 89 17 e 688 (somente à partir de números ucranianos)

segunda-feira, maio 05, 2025

Geografia da Ucrânia como a sua vantagem estratégica

Uma boa infografia preparada pelo projeto ucraniano Texty com base em dados da iniciativa internacional ACLED (Armed Conflict Location & Event Data) — ataques de mísseis, aeronaves, artilharia, drones e bombas russos contra Ucrânia desde janeiro de 2024 até agora.

É claramente evidente que Ucrânia tem uma retaguarda profunda e que a rússia é completamente incapaz de a atingir com as suas armas. Há regiões, cidades e áreas inteiras que nunca viram guerra ou ataques diretos.

Em primeiro lugar, isto reforça a razão pela qual a rússia está a adoptar tácticas terroristas que visam as infra-estruturas civis: simplesmente não consegue cumprir as suas próprias promessas militares. Basta recordar o ano 2022, quando Kremlin prometeu bombardear a fronteira com a Polónia e destruir todos os fornecimentos militares, mas isso nem sequer esteve perto de acontecer.

Em segundo lugar, um dos pontos fortes da Ucrânia é claramente visível: a sua escala. Sendo um dos maiores paises da Europa, tem espaço para construir infraestruturas e fábricas subterrâneas, por exemplo, nos Cárpatos.

E isso já está a ser feito.

As poucas fotos oficiais que Ucrânia publica de tempos a tempos mostram que as fábricas, armazéns e oficinas para a produção de mísseis e drones, aparentemente localizados no subsolo.

Ucrânia é um Estado grande, e isso é uma vantagem estratégica. Seria um pecado não o usar.

Por exemplo, o pequeno Israel, simplesmente não tem esse “bónus”: a geografia deixa muito a desejar, e isso obriga os israelitas a travarem sempre as guerras no território inimigo. Israel simplesmente não tem outra escolha (para poder usar a famosa táctica “Motti” finlandesa, por exemplo).

De uma forma ou de outra, a guerra deve ser sempre transferida para território inimigo e aí travada, independentemente da dimensão do seu país, escreve o analista israelita, Igal Levin.

sábado, maio 03, 2025

Sinais de paz russos: diplomacia ou armadilha política?

Imagem meramente ilustrativa
Em 30 de abril de 2025, o Kremlin anunciou novamente sua prontidão para negociações com a Ucrânia. O porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, disse que Moscovo/ou está aberta ao diálogo sem pré-condições, mas insiste que as negociações devem ser conduzidas diretamente com Kyiv, não por meio de Washington. A declaração foi feita em meio à proposta da rússia de declarar um cessar-fogo de três dias, de 8 a 10 de maio, programado para coincidir com a celebração do Dia da Vitória.

A reação ucraniana foi contida. Em seu discurso de 30 de abril, o presidente Volodymyr Zelensky chamou tal iniciativa de «manipulação», enfatizando: «Para acabar com a guerra, não é preciso esperar até 8 de maio. Precisamos parar os ataques, parar as matanças — e então buscar uma solução negociada.» Essa posição reflete a reivindicação estabelecida da Ucrânia: nenhuma negociação sem o cessar das hostilidades pela federação russa.

Ao mesmo tempo, também há mudanças nas iniciativas diplomáticas dos EUA. O representante especial de Donald Trump, Keith Kellogg, anunciou que a Ucrânia concordou na semana passada em Londres com um plano de ação de 22 pontos proposto pelos Estados Unidos para acabar com a guerra. Como Kellogg observou, as discussões estão sendo realizadas com Ucrânia em um espírito de parceria, e agora «é a vez da rússia». Ele também criticou a proposta de trégua de três dias, chamando-a de «insuficiente e tática».

Os EUA também anunciaram a primeira exportação direta de armas para a Ucrânia sob o governo Trump, no valor de US$ 50 milhões. Isso coincidiu com o anúncio de um novo acordo estratégico entre a Ucrânia e os Estados Unidos sobre um fundo de desenvolvimento conjunto no setor de minerais. O acordo prevê investimentos de ambas as partes em projetos no território da Ucrânia — da mineração à infraestrutura — com reinvestimento dos lucros na recuperação do país nos primeiros dez anos. Dessa forma, os EUA não estão apenas apoiando a recuperação econômica, mas também consolidando seu papel na futura arquitetura de segurança da região.

Essas ações, de acordo com alguns observadores ocidentais, demonstram a disposição dos EUA de agir não apenas nas dimensões militar, mas também política e econômica. Assim, Washington está sinalizando que vê a Ucrânia como uma parceira de longo prazo, não apenas como um objeto de assistência temporária. Ao mesmo tempo, isso pode servir como um sinal para Moscou de que prolongar o conflito não muda o curso geral do Ocidente em apoio a Ucrânia.

Paralelamente, o senador republicano Lindsey Graham, um dos principais aliados do presidente Trump, apresentou o projeto de lei «Sanctioning Russia Act of 2025» no Congresso, que prevê sanções máximas contra a rússia e uma tarifa de 500% sobre importações de produtos de países que compram petróleo, gás, urânio e outros recursos russos. Segundo Graham, o projeto de lei já conta com o apoio de 72 senadores, o que lhe permite superar um possível veto presidencial. Ele enfatizou que essas medidas visam pressionar Moscovo/ou a alcançar a paz, mas também são um sinal de que, na ausência de progresso, a economia russa sofrerá um duro golpe.

Enquanto isso, a rússia continua com hostilidades ativas. Nas últimas semanas, cidades ucranianas têm sofrido novos bombardeios massivos, o que coloca em questão a sinceridade das intenções da rússia de acabar com a guerra. Em 29 de abril, a rússia realizou outro ataque de drones na cidade de Sumy, que resultou em vítimas civis. Tais ações minam a credibilidade das declarações do Kremlin sobre a paz e forçam os parceiros ocidentais a ver as iniciativas russas como uma ferramenta para um jogo diplomático, em vez de um acordo real.

Nesse contexto, surge uma questão fundamental: as declarações de Moscovo/ou sobre sua prontidão para a paz são parte de uma manobra diplomática ou um sinal para negociações sérias? Dadas as declarações simultâneas de abertura ao diálogo e os bombardeios contínuos, os parceiros ocidentais devem permanecer cautelosos. Qualquer solução pacífica deve ser baseada no cumprimento das normas do direito internacional, e não na consolidação real dos resultados da agressão.

Uma paz estável exige não apenas um cessar-fogo, mas também uma clara responsabilização por suas violações. Somente nessa base é possível restaurar a confiança no diálogo como ferramenta para resolução de conflitos na Europa.

Guia «Made in Ukraine» dirigido ao público do Japão

A editora japonesa Publib, especializada em guias turísticos, lançou um guia «Made in Ukraine» (autor e compilador Tanaka Yuma). A publicação apresenta ao leitor japonês uma visão geral de marcas conhecidas de produtos e serviços ucranianos, de roupas e calçados a software e videogames, com fotos de alta qualidade, uma breve descrição e até links para sites e páginas dos fabricantes, informa a Embaixada da Ucrânia no Japão.

O resumo do livro é interessante: «Compre não para apoiar, mas porque você quer comprar.» Esperamos que esta publicação aumente o interesse dos consumidores e empresas japonesas pelos produtos ucranianos.



Vale lembrar que a Publib Publishing House publicou anteriormente os guias da Ucrânia «Ukraine Fanbook» (Hirano Takashi) e «Complete Guide to Ukrainian Cinema» (Kajiyama Yuji).

«Vox Veritatis»: o professor ucraniano ensinando a história aos russos

Ucraniano Vitaliy Dribnytsia interage com russos online para corrigir a propaganda do Kremlin sobre Ucrânia. Com o tempo, ele percebeu que seu público mais importante são os próprios ucranianos. 

O New York Times escreveu sobre ucraniano Vitaliy Dribnytsya, ex-professor de história de Bila Tserkva, que tenta refutar os mitos da propaganda russa durante videochamadas com o público russo. Quase todos os dias, Dribnytsia se comunica com russos por meio de plataformas online e, usando seu conhecimento de história, desmascara narrativas russas hostis sobre a Ucrânia. O historiador publica as conversas nos seus canais do YouTube e TikTok «Vox Veritatis», que significa «Voz da Verdade» em latim. O canal tem quase meio milhão de inscritos. 

O professor admite que geralmente é impossível mudar as opiniões de seus interlocutores. A maioria dos russos rejeita os seus argumentos lógicos ou repete as teses do Kremlin. Com o tempo, Dribnytsya percebeu que seu verdadeiro público eram os milhões de ucranianos que foram educados durante a era soviética. 

“Aprendo muito com ele”, diz Natalia Tylina, uma reformada/aposentada ucraniana de 64 anos. Segundo ela, agora ela se sente mais confiante para discutir com quem “não conhecem nossa história” e espalham narrativas russas.

domingo, abril 27, 2025

Infográfico detalhado da rota para voluntários do Brasil até a Ucrânia

O voluntário brasileiro JC (Johnson Wlk), responsável pelo recrutamento das FAU, apresenta o infográfico bastante detalhado da rota prática e segura para voluntários do Brasil irem até a Ucrânia:

 

O mesmo voluntário JC (Johnson Wlk), ex-militar brasileiro, conta ao canal «Mundo em Revolução» a sua própria experiência nas FAU, forma de pagamento dos salários, a transferência do dinheiro ao Brasil e outras informações úteis sobre o dia-a-dia da guerra moderna na Ucrânia:

A história do Proença, carioca de 30 anos, ex-militar, ex-segurança privado, o voluntário brasileiro no 2º Batalhão Internacional das FAU:

 

Sadan, o voluntário brasileiro e Instrutor de Medicina Tática explica o uso de kit de primeiros socorros «IFAC» (sub-títulos em inglês, espanhól e português):

Yevgeni Brik: o espião que voltou do frio

Um espião ilegal soviético criado emo Brooklyn chega ao Canadá nos dias iniciais da Guerra Fria, mas se apaixona e decide se tornar um agente duplo de Ottawa. No entanto, é traído por um oficial da RCMP falido, que o vende, por dinheiro, aos soviéticos. 

Essa é a história de Yevgeni Brik, contada no livro, Shattered Illusions: KGB Cold War Espionage in Canada. Foi escrito por Donald Mahar, um oficial de inteligência canadense aposentado, que conheceu Brik pessoalmente. 

Brik nasceu na União Soviética, em Novorossiysk, às margens do Mar Negro. Quando Brik era criança, a família se mudou para Nova York, quando seu pai foi transferido para trabalhar na AmTorg, a primeira empresa comercial da União Soviética nos EUA, que servia de «guarda-chuva» as atividades de inteligência soviética nos Estados Unidos. 

Agente ilegal do KGB, Evgeny Brik

Mahar conta ao apresentador convidado do The Current, Dave Seglins, que quando a família se estabeleceu no Brooklyn, «a vida do jovem Yevgeni Brik mudou para sempre. Com o passar dos anos, esse jovem aprendeu a falar inglês perfeitamente, mas com um sotaque bem característico do Brooklyn.» 

Tornando-se um agente do KGB 

Quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu, Brik retornou à URSS para se juntar às forças armadas. Ele se filiou ao Partido Comunista e tornou-se oficial de comunicações em uma unidade de infantaria soviética. 

Mahar diz que o inglês que aprendeu crescendo no Brooklyn — e o sotaque que o acompanhava —, juntamente com a habilidade de conhecer o Código Morse russo, lhe renderam um emprego na KGB como um «ilegal» — um espião soviético que se infiltrava no exterior. 

O primeiro posto de Brik foi no Canadá em 1951. Ele chegou a Halifax e passou pela alfândega canadense usando um passaporte canadense «emprestado». 

Mahar afirma acreditar que Brik passou seus dois primeiros anos no Canadá viajando, familiarizando-se com o país em que supostamente cresceu. «Os soviéticos acreditavam que tinham um patriota — um jovem altamente treinado em quem podiam confiar. No entanto, suas ilusões estavam prestes a ser destruídas», disse Mahar ao The Current. 

Tornando-se um agente duplo 

Durante suas viagens, Brik se apaixonou por uma canadense Larissa Cunningham — à quem confidenciou que não era um fotógrafo canadense chamado David Soboloff; mas um espião soviético chamado Yevgeni Brik. 

Em 1953, ela o convenceu a ir para Ottawa para se entregar à Real Canadense Polícia Montada (RCMP) e foi assim que Brik se tornou um agente duplo. Ele recebeu um codinome — «Gideon» — e contou tudo sobre seus contatos na embaixada soviética, suas agendas de reuniões, locais de entrega de objetos, além de códigos ultrassecretos para invadir transmissões de rádio de Moscovo/ou. 

A Polícia Montada Real Canadense prometeu proteger «Gideon» como se fosse um deles. Mas foi um oficial da RCMP traiu o nosso agente duplo. Um cabo da RCMP, chamado James Douglas Finley Morrison recebeu ordens de levar Brik de volta para sua casa em Montreal após uma visita à sede da RCMP em Ottawa. 

«Em uma completa violação de segurança, o oficial sênior revelou ao Morrison quem Brik realmente era; diz que ele é um espião soviético, que ele é um agente duplo.» Mahar diz que Morrison estava extremamente endividado na época e viu uma oportunidade. «Morrison reconheceu que poderia extorquir dinheiro dos soviéticos», por lhes contar que Brik havia mudado de lado e agora estava trabalhando para o Canadá. 

Brik foi chamado de volta a Moscovo/ou. Brik pensou que era para um retreinamento padrão e para ver sua família, mas foi rapidamente preso e desapareceu. A RCMP acreditou que ele foi executado. Em vez de execução, Brik foi enviado para a prisão. Ele foi libertado após 15 anos. 

Em 4 de setembro de 1956, em uma sessão fechada do Colégio Militar da Suprema Corte, Brik foi condenado a quinze anos de prisão. O fato de ele ter escapado da pena de morte provavelmente se deve à sua cooperação no que Arquivo Mitrokhine descreve como um «jogo operacional». Brik não foi autorizado a se encontrar com nenhum membro do SIS/MI6 na embaixada britânica de Moscovo/ou, provavelmente por medo de que ele contasse o que havia acontecido com ele, mas foi instruído a marcar um encontro, o que não ocorreu. Ao manter vigilância no local da reunião, a KGB conseguiu identificar Daphne Park (mais tarde, a Baronessa), na altura a 2ª Secretária da embaixada britânica em Moscovo, que apareceu lá como agente do SIS/MI6. 

Em 1992, enquanto a União Soviética estava em colapso, um russo idoso apareceu na Embaixada Britânica em Vilnius, na Lituânia com uma mensagem codificada para os oficiais de inteligência canadenses. 

Yevgeni Brik (à esquerda) com o agente do CSIS Donald Mahar (à direita)
olhando um cardápio em seu quarto de hotel na Suécia após a exfiltração de
Yevgeni Brik. (Donald Mahar)

Era Evgeni Brik e ele queria voltar para o Canadá. 

«Mal podíamos acreditar no que víamos quando víamos esta mensagem», diz Mahar, que trabalhava na inteligência da Polícia Montada Real Canadense na época. Ele foi enviado aos arquivos para desenterrar arquivos antigos de Gideon e encontrar três perguntas que só o verdadeiro Yevgeni Brik poderia responder. 

«A mensagem foi enviada, os britânicos responderam e disseram que ele havia respondido às três perguntas com perfeição.»

O primeiro-ministro Brian Mulroney foi informado. «Toda a consideração será dada a este homem que foi traído pela covardia de um oficial da Polícia Montada Real Canadense», escreveu Mulroney na época. 

Mahar fazia parte da equipe encarregada de trazer Brik de volta ao Canadá em segurança. Ele não quis discutir os detalhes, mas a equipe conseguiu. 

Yevgeni Brik na cabine de comando do 747 da Canadian Airlines, retornando
ao Canadá durante uma operação de exfiltração do CSIS. (Donald Mahar)

Brik viveu uma vida tranquila em Ottawa. Ele morreu em 2011, aos 89 anos. 

Mahar acredita que a história de Brik ainda é relevante hoje. Ele afirma que a inteligência russa continua a usar espiões infiltrados como Brik em todo o mundo ocidental, inclusive no Canadá.

«Não é uma aula de história», diz Mahar. «Isso continua.»

Em junho de 1983, o ex-oficial da RCMP envolvido em contrainteligência foi preso sob a acusação de ter passado informações secretas a agentes soviéticos há mais de 25 anos, informou a polícia canadense. A polícia disse em um comunicado que James Douglas Finley Morrison — que já havia usado o nom de código/codinome «Long Knife» em seu trabalho de espionagem — foi preso na terça-feira em Prince Rupert, em British Columbia.

Casos de espiões ilegais russos descobertos no Canadá ou com passagem pelo Canadá: 

1996: Yelena Borisovna Olshanskaya «Laurie Catherine Mary Lambert» (nome de solteira Brodie) e Dmitriy Olshansky «Ian Mackenzie Lambert». A real Laurie Brodie nasceu em Setembro de 1963 em Quebec e morreu em Toronto aos dois anos de idade. O real Ian Mackenzie Lambert nasceu em Ontário e morreu, aos 3 meses em fevereiro de 1966.

O casal Olshansky em tribunal

2006: «Paul William Hampel», espião russo, que usava o cartidão de nascimento falso, passado em Ontário.

2010: Andrey Bezrukov «Donald Heathfield» e Elena Stanislavovna Vavilova «Tracy Lee Ann Foley». Bezrukov usava a identidade de Donald Howard Heathfield, o filho de um diplomata canadense, que morreu em 1962 com algumas semanas de vida.

sábado, abril 26, 2025

A historia da residentura ilegal do KGB no Brasil: 1955-60

Imagem ilustrativa by AI Art & Universo Ucraniano

No início de 1954, já após a morte de Estaline, no âmbito da expansão da sua influência na América Latina, KGB estabeleceu uma série de residenturas ilegais, dedicadas ao trabalho ativo de busca e recrutamento, gestão das atividades de uma rede de agentes ilegais, envio regular as informações ao Moscovo. 

Residenturas ilegais do KGB eram compostas por funcionários de carreira da secreta soviética que operavam no estrangeiro com documentos e identidades falsas, sem ligações a instituições soviéticas e sem imunidade diplomática. Preparação prévia de um agente ilegal para ser colocado no estrangeiro poderia levar vários anos. A colocação era realizada com a aprovação pessoal do chefe do KGB. Em muitos casos, os residentes ilegais eram casais formais; há um caso conhecido (do casal Filonenko) quando os filhos também eram colocados no estrangeiro, juntamente com os seus pais. 

A residentura do KGB no Brasil entre janeiro de 1955 a julho de 1960 era composta por residente “Firin” / “Zhango”, nome real Mikhail Filonenko, secundado pela sua esposa, Anna Kamaeva-Filonenko, “Marta” ou “Elena”. 

Milhail Filonenko, 1973

Mykhail Filonenko nasceu a 10 de outubro de 1917 na aldeia de Belovodska, na região ucraniana de Kharkiv, foi mineiro, durante 4 anos estudou na escola de aviação, mas alguma coisa deu errado e em 1941 ele foi recrutado para NKVD de Moscovo e da região de Moscovo. Em 1941-1942, Filonenko foi comandante do grupo de sabotagem «Moskva», que atuou nas zonas ocupadas pelos alemães na região de Moscovo. 

Anna Filonenko-Kamaeva

Anna Kamaeva, nasceu a 28 de novembro de 1918, na região de Moscovo. O seu pai tinha origem checa, fato propositadamente ocultado pelos seus biógrafos russos. Foi operária na fábrica de tecelagem, até que em 1938 foi recrutada pelo NKVD, onde começou a trabalhar no Departamento de Operações Exteriores. 

Anna e Mikhail oficialmente se casaram em 1946, recebendo, de seguida, uma tarefa de continuar o seu serviço na área de inteligência ilegal. Em mais que diversos casos os casamentos entre os agentes secretos soviéticos não se baseavam no amor, eram vistos como uma parte de sua identidade falsa, garantindo, por uma mão, a intimidade da vida amorosa segura dos agentes, por outro lado, assegurando, ao Moscovo, que os agentes viveriam sob a vigilância permanente dos seus cônjuges. 

Durante o treino especial Anna Kamaeva estudou rádio, espanhol e português. O conhecimento do português era-lhe necessário, uma vez que KGB preparava o casal para a colocacao ilegal no Canadá, através de um assentamento preliminar no Brasil. Considerando as fracas capacidades linguísticas do casal dos agentes, Moscovo decidiu que estes fossem apresentados às autoridades brasileiras como emigrantes checos que tinham vivido recentemente na China. O primeiro local de residência dos agentes no estrangeiro, seria a Checoslováquia, onde eles permaneceriam por alguns anos para aprender a língua checa e o todo o meio sócio-cultural checo (não está calro se casal realmente viveu na Checoslováquia ou se todos os seus documentos «nativos» foram simplesmente preparados pela secreta checoslovaca StB). Depois disso, eles realmente foram transferidos para a China, onde consolidariam as suas biografias recriadas. A partir daí, deveriam solicitar o visto de imigração ao Brasil. De acordo com este plano, no final de 1951, Anna, o seu marido e o seu filho de quatro anos, Pavel, chegaram à China, onde se estabeleceram na cidade de Harbin, onde nas décadas 1920-40, vivia uma grande comunidade emigrante, vinda do império russo. Em Harbin nasceu a sua segunda filha, Maria. 

Na primavera de 1953, o casal Filonenko, agora com dois filhos pequenos, concluiu a sua legalização na China como imigrantes de origem checa, que viveram na China durante muito tempo, vindos da Checoslováquia. Anna e Mikhail assumiram as suas identidades falsas: Mária Navotná (cidadã checa nascida a 10 de outubro de 1920 na Manchúria) e Joseph Kulda (nascido a 7 de julho de 1914 em Alliance, Ohio, nos EUA que terá emigrado para a Checoslováquia com a família em 1922). No consulado brasileiro em Hong Kong, obtiveram facilmente vistos de entrada, permitindo-lhes residir permanentemente e trabalhar no Brasil. 

Fucha consular de emigração do Consuldado brasileiro de Hong Kong

O casal procurava as informacões (localização e equipamento das bases militares americanas, a condução das manobras estratégicas dos países aliados dos EUA, relações entre NATO e América Latina, etc.), realizavam recrutamentos para operações clandestinas, supervisionavam as atividades de inteligência ilegal e enviavam regularmente relatórios ao Moscovo. As fontes russas afirmam que os Filonenko conseguiram aproximar-se do círculo do presidente brasileiro Juscelino Kubitschek e, também, do ditador paraguaio Alfredo Stroessner. 

No Canadá, e devido ao fuga do criptografo Igor Gouzenko (1919 – 1982), o KGB sovietico recebeu um duro golpe nas suas atividades de inteligência ilegal. Gouzenko desertou no fim de 1945, levando consigo mais de 100 documentos que provavam a existência de uma vasta rede de espionagem soviética para roubar os segredos atômicos dos EUA. 

Igor Gouzenko, 1946

Alem disso, entre 1954 e verão de 1954, o membro da residentura ilegal sovietica, Yevgeni Vladimirovich Brik, agente do KGB “Hart”, passou a colaborar com os serviços secretos do Canadá (a RCMP), sob o nome de “Gideon” (Gideon-Hart foi traido e entregue a embaixada sovietica, por dinheiro, por corporal James Morrison, oficial da RCMP). Dado que “Hart” sabia do plano do KGB de colocar no Canadá um casal dos agentes ilegais, vindos do Brasil, conhecidos pelo nome do código “Hector”, Moscovo mudou imediatamente os planos. Os Filonenko ficaram no Brasil para gerir a residentura ilegal. 

Yevgeni Brik, 1953 (foto: Donald Mahar)

Para re-orientar o casal Filonenko de alteração do plano aprovado para se mudar ao Canadá, Moscovo enviou uma mensagem pessoal, entregue por uma outra espiã ilegal, “Pátria”, a comunista espanhóla e agente soviética África de las Heras Gavilán, a residente ilegal na vizinha Uruguai. Além disso, a tarefa de «Patria», que era uma experiente operadora de rádio clandestino, incluía assistência no estabelecimento de comunicação rádio unidirecional fiável entre a residência dos Filonenko e Moscovo. Aparentemente, para este efeito, Moscovo usou uma estação de rádio em forma de uma potente repetidora, dissimulada na frota baleeira soviética, que operava no Atlântico, na costa brasileira, pelo que não houve problemas no envio de mensagens codificadas/cifradas. 

Giovanni Antonio Bertoni

Suspeita-se que “Patria” chegou a matar, envenenando, o seu marido, com quem se casou por ordem expressa de Moscovo, sem nunca o ver antes, o comunista italiano Giovanni Antonio Bertoni (1906-1964), quando este, agente secreto soviético e tenente-coronel do KGB, também conhecido com “Valentin Marchetti Santi” e “Marko”, se desiludiu com a realidade soviética e começou a criticar o regime comunista e o PCUS. 

De acordo com os dados russos, um dos alvos do casal Filonenko era Henrique Batista Duffles Teixeira Lott (1894 – 1984), o militar e político brasileiro, que atingiu o posto de marechal, foi Ministro da Guerra e chegou a concorrer à Presidência da República nas eleições de 1960. 

Em 1957 Mikhail, que tinha o disfarce do corretor da bolsa de valores, sofreu um infarto, por este motivo, em Julho de 1960, a família Filonenko, retornou à URSS. Na União Soviética, os filhos ficaram surpresos ao finalmente saberem que seus pais eram espiões soviéticos. Anna, nas suas próprias palavras, dedicou-se a eliminar a “influência da igreja católica brasileira” sobre a educação dos filhos. 

Anna Kamaeva-Filonenko e os seus três filhos

A sua casa e todos os bens móveis e imóveis no Brasil foram entregues ao contato apontado pelo KGB...

sexta-feira, abril 25, 2025

Esquerdista americano que morreu na Ucrânia pela glória russa

Americano Michael Alexander Gloss, de 21 anos, assinou um contrato com o Ministério da Defesa russo e morreu na guerra com a Ucrânia, em 2024. A sua mãe, Juliane Gallina Gloss, é vice-diretora de inovação digital na Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA).

Gloss é filho de Juliane Gallina Gloss, a vice-diretora de inovação digital da Agência Central de Inteligência dos EUA e do Larry Gloss, um veterano da Marinha dos EUA, que participou na Operação Tempestade no Deserto, dono da empresa Security Information Systems, que desenvolve software para o Pentágono e países da NATO, escreve iSrories, que fez um trabalho profundo para traçar o perfil do mercenário americano.

Juliane Gallina Gloss

No obituário os seus pais escreveram que ele tinha um «aguçado sentido de justiça» e também «queria que o mundo fosse um lugar melhor, onde houvesse mais justiça, paz e harmonia com a natureza».

Esquerdista, eco-ativista, ativista pró-palestina, à favor dos abortos e direitos das mulheres, em algum momento de 2023 Gloss tive a intenção de visitar a Crimeia ocupada, que levou à discussão sobre a segurança das viagens à península, o estatuto da região e a guerra na Ucrânia: «Quero que todos vivam bem», escreveu Michael. «Mas conheço história suficiente para compreender que, nos conflitos entre nações, é a nação maior e imperialista que traz a paz através da vitória militar».

Gloss na época do seu ativismo nos EUA

Isto foi escrito por um esquerdista canónico. Mas exactamente a mesma coisa está a ser articulada pelos trumpistas. Isto é afirmado de forma algo indireta pelo próprio Trump, J.D. Vance, Musk e todos os seus minions. A mesma narrativa sobre uma nação imperialista que possui o direito de invadir vizinhos mais fracos porque isso oforece estabilidade e ordem global é o elemento da guerra de informação que a propaganda russa promoveu com muito sucesso, tanto ao público trumpista, como para o público esquerdista. Aqui, diferentes pólos do espectro político americano estão compostos pela mesma porcaria russa, escrve a jornalista ucraniana Olha Len.

Mas porque é que essa idéia entrou tão facilmente para os cérebros americanos? Acredito que havia uma base para isso na cultura popular americana. O que é que esta cultura de massas nos mostrou nos últimos dez anos? Basta olhar para um monte de séries de TV americanas desde 2014, onde o tema da Ucrânia e da agressão russa surge de uma ou de outra forma. O enredo mais comum em todas estas «Madam Secretary», «The Diplomat» e tantos outros «House of Cards» é uma espécie de guião de como negociar com um ditador russo. De série em série, divagava o enredo de como a personagem principal obrigava, «vitoriosamente» o presidente da Ucrânia a fazer concessões e render-se às vontades da federação russa. Então, digam-me, porque é que Trump teve de pensar que a vida não seria como numa produção de Hollywood?

Afinal, se todos este filmes, mais de dez anos são sobre conluio com a federação russa e sobre como forçar Ucrânia a render-se, porque razão este sentimento não seja aproveitado pela propaganda russa? A situação do filho da vice-diretora da CIA mostra que, com visões morais e filosóficas tão básicas, é muito fácil passar da pressão de Trump sobre os ucranianos para ajuda direta aos russos de matar estes ucranianos «intransigentes».

A Gloss assinou um contrato com as forças armadas russas, o que foi descoberto pela análise de dados do Sistema Unificado de Informação Médica e Analítica (EMIAS), que ficaram disponíveis como resultado de uma fuga de informação. O nome de Gloss apareceu na base de dados a 5 de setembro de 2023. O seu local de residência, bem como o de centenas de outros mercenários estrangeiros, era a morada do conselho de alistamento militar em Moscovo: rua Yablochkova, 5, edifício 1, apartamento número 302. A sala de exames médicos do conselho de alistamento militar tem o mesmo número.

Gloss junto aos mercenários nepaleses no centro de treinos «Avangard»,
na região de Moscovo.

iStories falou com um russo que foi recrutado ao 137º Regimento Aerotransportado de Ryazan e que conhecia bem Michael. «Peter» disse que Gloss tinha «a sua própria visão de como poderia ser útil na frente de batalha. Na faculdade, estudou construção e engenharia, por isso todos os seus pensamentos estavam relacionados com invenções e inovações», disse «Peter».

No entanto, o exército russo tinha a sua própria visão da utilidade do Michael, de acordo com uma fonte familiarizada com a história do Gloss, o americano foi enviado para as unidades de assalto aerotransportado em dezembro de 2023. Nessa altura, as unidades do 137º regimento operavam a noroeste de Soledar, na região de Donetsk. Gloss foi morto a 4 de abril de 2024 — a sua família confirmou a informação num obituário. As circunstâncias exatas da sua morte são desconhecidas. De acordo com o site da agência funerária, foi sepultado nos Estados Unidos oito meses após a sua morte.

A imagem, não confirmada, que mostra o último momento do Gloss

Como escreveu um dos participantes no chat/bate-papo do agrupamento hippie «Rainbow Family»: «Nesta situação, nem sequer tenho pena dele. Saltar voluntariamente para o picador de carne para prolongar a ditadura — o que poderia correr mal? É triste que as pessoas continuem a ser vítimas de ideias estúpidas. Não suspeitava que ele estivesse tão fortemente contaminado por elas. Pensei que isto era apenas maximalismo juvenil. E agora ele desapareceu».

Blogueiro 

Ao olho nú são visíveis as semelhanças entre caso do mercenário americano e mercenário brasileiro, Rafael Lusvarghi. Ambos jovens, provenientes das famílias da classe média (média alta do Gloss e média baixa do Lusvarghi). Ambos com ideias esquerdistas sobre «injustiças capitalistas» e o «mundo melhor» das «amanhãs cantantes». Mais um passo lógico e ambos se viram às armãs nas mãos à agredirem Ucrânia, matarem os ucranianos, destruírem a economia ucraniana e bem-estar da região de Donbas. Diferença única: Lusvarghi confessou que aprendeu o socialismo «com o fuhrer» e talvez por isso, está servir uma pena, na cadeia brasileira, pelo tráfico de droga. Já Glosse simplesmente morreu, liquidado por um drone ucraniano e servindo, durante meses, de adubo às terras negras da Ucrânia. O que também, no fundo, no fundo, é um mal menor.

Outro ponto interessante, a filiação do Gloss, poderia ser facilmente aproveitada, em grande medida, pela propaganda russa. O filho da vice-diretora da CIA lutando nas fileiras do exército russo pela glória russa. O que poderia igualar essa passagem verdadeiramente hollywoodesca? No entanto, o exército russo agiu, à semelhança do Daesh, quando estes recebiam os voluntários ocidentiais. Sem muita conversa, na absoluta maioria dos casos, o Daesh colocava estes idiotas úteis no primeiro jihad-móvel disponível e os enviava ao encontro de alvos absolutamente insignificantes.